Especialista diz que a maioria das pessoas não consegue ter uma boa noite de sono, devido à sobrecarga de trabalho e de atividades
Por Luciana Pimentel, do jornal A Tribuna
04/11/2018 às 17:58
Fonte: https://tribunaonline.com.br/dormir-bem-e-um-privilegio-para-poucos-diz-especialista
Os benefícios de uma noite bem dormida são infinitos para o corpo humano: rejuvenesce, estimula o raciocínio, reduz o estresse, controla o apetite, melhora o humor e ativa a memória. Mas, dormir bem é um privilégio de poucos.
É o que diz a presidente da Associação Brasileira do Sono no Espírito Santo (ABS-ES), Simone de Oliveira Alvarenga Prezotti. Em tempos em que as tarefas se multiplicam e a sobrecarga de trabalho aumenta, a qualidade do sono da população despencou.
Dados da ABS apontam que 31% dos homens, que participaram de uma pesquisa feita pela associação, roncam, contra 19% das mulheres.
Hoje, cada pessoa possui pelo menos dois problemas de sono: os mais comuns são ronco, sono leve ou insuficiente, insônia e movimentação excessiva durante o sono. E eles ocorrem pelo menos três vezes por semana. Confira a entrevista completa.
A Tribuna – É verdade que dormir bem hoje é privilégio de poucos?
Simone Prezotti – É verdade. Dormir bem é um privilégio. A maioria das pessoas se queixa muito em relação ao sono. Os dados que a gente tem em nível de Brasil é que 76% da população têm alguma reclamação em relação ao sono: ou dorme pouco ou tem o sono leve, ronca. Então, o sono não vai bem para a maioria das pessoas.
O que mais atrapalha a qualidade do sono nos dias atuais?
Vários fatores atrapalham e um deles é a rotina da vida moderna. Hoje em dia, grande parte das pessoas não quer perder tempo dormindo. Então, não se oferece tempo para dormir. A pessoa trabalha muito, chega em casa tarde, usa muito aparelho eletrônico, vê filme até tarde. Então, ela mesma acaba se oferecendo pouco tempo de sono.
A tecnologia piorou o sono das pessoas?
Pirou muito. Estudos feitos nas populações do mundo inteiro mostram que, de uma década para cá, a tecnologia fez as pessoas dormirem pior.
Quem trabalha até mais tarde tem mais dificuldade para dormir?
O problema do trabalhar até mais tarde em dispositivos eletrônicos como computadores, celulares e tablets, é que a luminosidade deles informa para o cérebro que é de dia, que não é hora de dormir. Além disso, inibe a produção da melatonina, que é um hormônio que a gente produz naturalmente e que induz o nosso sono, ou seja, faz com que a gente comece a dormir. Tudo isso prejudica o sono.
O ronco e a apneia também prejudicam o sono?
A apneia fragmenta o sono: a pessoa para de respirar, e o acordar é um mecanismo de defesa do nosso corpo contra essa parada na respiração. Assim, o cérebro nos acorda várias vezes durante a noite para nos “salvar” dessa parada. O sono, então, fica prejudicado. Na verdade, o ronco e a apneia são causados pela obesidade, mas são um fator extra que contribui para a piora do sono.
O horário de verão é um vilão do sono?
Ele bagunça, sim. Quando acaba, é mais fácil, pois a gente tem mais facilidade de nos adaptar de volta, ganhando uma hora a mais, do que quando a gente perde essa hora, como acontece agora.
Quais são os problemas decorrentes de uma noite mal dormida?
A principal manifestação é o cansaço, pois você acorda no outro dia sentindo que o corpo não se recuperou completamente. Esse cansaço pode aparecer de várias maneiras: cansaço físico, você se sente sem energia e disposição, dores musculares, alteração da memória e da concentração, da atenção, do humor, e da habilidade para tomar decisões para trabalhar e dirigir. Como o reflexo fica mais lento, aumenta o risco de acidentes.
Como o cérebro percebe que é hora de dormir?
Com o contraste do claro e do escuro. Durante o dia, nos expomos à luz do sol, praticamos atividades ao ar livre e trabalhamos sob luz artificial, então o cérebro entende que é para ficar acordado. A temperatura do nosso corpo também varia durante todo o dia. À tarde e à noite, ela baixa um pouco mais, e o sono vai aparecendo.
É legal ter um horário mais ou menos estabelecido para dormir todo dia, pois a falta de rotina confunde o cérebro e acaba prejudicando o sono.
Todo mundo precisa de oito horas de sono?
Existe uma variação da necessidade do sono de pessoa para pessoa. Um bebê tem grande necessidade de dormir, cerca de 18 horas diárias, e, à medida que a gente vai crescendo, essa necessidade diminui.
Um adolescente precisa de oito a 10 horas de sono; um adulto jovem, de oito a nove horas de sono, mas a maioria das pessoas dorme de sete a oito horas. Uma minoria precisa de menos ou mais tempo do que isso. As pessoas têm que respeitar a sua própria necessidade e ritmo.
Grande parte das pessoas dorme das 22 horas às 6 da manhã, e algumas são mais vespertinas, então dormem mais tarde. Temos que tentar identificar de qual grupo fazemos parte, se é das pessoas matutinas ou vespertinas, e quanto tempo de sono nosso corpo precisa.
Como fazer isso?
A gente sabe quando está se sentindo bem. Se você dorme seis horas de sono e acordou bem disposto, animado, com energia e memória boa, não fica com sonolência, esse tempo está bom para você.
Mas se dormiu essas seis horas e acorda mal, cansado, com dor de cabeça de manhã, fica de mau humor e morre de sono depois do almoço, sem vontade de fazer atividade física, tem de se oferecer mais tempo. Tem de observar o que seu corpo pede.
Quais as dicas para a pessoa a dormir melhor?
Quando a pessoa tem uma qualidade de sono ruim, a primeira coisa que precisa fazer é observar o que está sendo feito de errado em relação à higiene do sono e tentar corrigir.
É bom evitar o consumo de cafeína depois das 16 horas; ter horário regular, pois nosso corpo gosta de rotina; evitar o consumo de álcool, que é indutor do sono, mas de qualidade ruim; ter uma alimentação mais leve à noite, evitar o uso de dispositivos eletrônicos pelo menos duas horas antes de dormir; deixar a casa mais escura apagando todas as luzes; tomar um banho morno e colocar o quarto em temperatura mais fria.
Aprender técnicas de respiração, meditação e ioga também nos ajudam a relaxar antes de dormir.
Essas medidas comportamentais são mais importantes e fazem toda a diferença. E o nosso corpo vai demorar uns dois meses para se acostumar.