Queda da progesterona aumenta incidência da apneia, pausa respiratória durante o sono que leva a alterações na pressão e a distúrbios metabólicos
Normalmente, mulheres costumam sofrer mais com os problemas do sono. A diferença para os homens é de 30%, de acordo com a Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo.
A chegada da menopausa, que acontece por volta dos 50 anos, pode potencializar esse problema em quem já tem dificuldades para dormir e fazer surgir um distúrbio do sono em quem nunca teve.
O pneumologista Bruno Rocha de Macedo, especialista em medicina do sono, apresentou, no Congresso Paulista de Medicina do Sono, realizado em São Paulo na última sexta-feira (4), a relação entre os distúrbios do sono e a menopausa.
Segundo ele, os distúrbios do sono provocados pela menopausa são o desencadeador de diversas doenças nessa fase. “A menopausa marca uma mudança no perfil de doenças e de saúde geral da mulher e isso está relacionado ao aumento dos distúrbios do sono”.
Ele explica que a culpa é das mudanças hormonais.
A mulher já nasce com todos os óvulos que vai produzir durante toda a vida, entre a primeira e a última menstruação. Quando este estoque acaba, os ovários deixam de produzir hormônios, a progesterona e o estrogênio.
De acordo com o neurologista Álvaro Pentagna, do Ambulatório de Sono no Adulto do Hospital das Clínicas da USP, a diminuição desses hormônios leva a problemas que dificultam a qualidade do sono, como a insônia.
“A progesterona é um hormônio que tem o potencial de fazer a pessoa ter mais sono, é como se fosse um indutor de sono. A mulher que engravida, por exemplo, tem o nível de progesterona aumentado, por isso sente aquele monte de sono no início da gestação. Na menopausa acontece o contrário. A progesterona cai e piora a qualidade do sono da mulher”, afirma.
Além disso, Pentagna explica que a progesterona tem uma propriedade protetora das vias aéreas respiratórias. Com a queda desse hormônio, aumenta a possibilidade de a mulher desenvolver problemas como a apneia obstrutiva do sono. Apneia são pausas respiratórias que acontecem durante o sono, normalmente associadas ao ronco, à obesidade e ao envelhecimento.
“A menopausa marca uma mudança no perfil de doenças e de saúde geral da mulher e isso está relacionado ao aumento dos distúrbios do sono”
Essas pausas da respiração reduzem a oferta de oxigênio e o volume de ar que é levado até os pulmões. Essas pausas fazem com que a mulher acorde várias vezes durante a noite, sem perceber o motivo.
O pneumologista Bruno Rocha de Macedo, explica que a apneia deixa o sono fragmentado. “Isso pode gerar uma cascata de eventos, levando ao aumento da pressão arterial e a outros distúrbios metabólicos e cardiovasculares”.
Os especialistas explicam que noites mal dormidas, a longo prazo, podem levar a problemas como anemia, distúrbios renais, neuropatias e síndromes demenciais.
Quando a mulher, por um problema grave de saúde, precisa retirar os ovários, acontece o que se chama de menopausa cirúrgica. Sem o órgão, a produção de hormônio diminui de forma muito abrupta, todo o cenário hormonal da mulher muda de um dia para o outro.
“O que a gente sabe hoje em dia é que a menopausa cirúrgica está relacionada a um maior risco de desenvolver apneia e essa população que sofre a menopausa cirúrgica, habitualmente, é mais doente.”, explica Macedo.
Fogachos e mudanças de humor
A queda do estrógeno e da testosterona leva a outro problema que interfere no sono, os fogachos, como são chamadas as ondas de calor. Essas mudanças de temperatura provocam desconforto e prejudicam o sono, que fica fragmentado, pois o calor faz com que a mulher acorde diversas vezes durante a noite.
Também existe um terceiro fator que prejudica o sono na menopausa, as mudanças de humor.
“Essas mudanças acontecem, principalmente, durante o climatério, que é aquela transição, quando a menstruação começa a ficar irregular, quando aumenta o espaço entre os ciclos menstruais. Nesta fase, a mulher vai ter alterações de humor, depressão, isso também aumenta a chance de ter insônia”, explica Pentagna.
Ele afirma que, a isso, soma-se a condição social. “A menopausa marca o início do envelhecimento”.
“A mulher está ficando mais velha, os filhos estão saindo de casa, elas estão se aposentando, estão ficando mais sós, o casamento, muitas vezes, não vai bem. Então são vários fatores sociais que acabam influenciando de forma indireta, mas que também colaboram para que esta mulher não consiga dormir bem”, afirma.
Veja quais são os primeiros sintomas da menopausa:
Cerca de 70% das mulheres atingem a menopausa espontânea ao redor dos 50 anos, mas os sintomas podem aparecer antes disto, por volta dos 40 anos. Esta é a menopausa precoce. Ela acontece principalmente em mulheres com mãe ou irmãs que passaram pelo mesmo problema, mas também pode surgir devido a fatores como fumo, retirada do útero e dos ovários e uso de tratamentos como radioterapia e quimioterapia. Nestes casos, a terapia de reposição hormonal é o mais indicado, feito através do uso de medicamentos à base do hormônio estrogênio, responsável por regular o ciclo menstrual e prevenir complicações como osteoporose e doenças cardíacas, que são mais frequentes em mulheres com menopausa precoce.
Fonte: https://noticias.r7.com/saude/disturbios-do-sono-provocados-pela-menopausa-desencadeiam-doencas-08052018